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sábado, 20 de novembro de 2010

A pira da Ilha dos Judeus

Aldous esforçava-se para não deixar transparecer como estava abalado, mas notou nos olhos e nas maneiras de Michel Mortimer que ele havia percebido. Aquilo incomodou-o deveras e ele sentiu-se envergonhado, de forma que emudeceu por completo. Em verdade, desejava, acima de tudo, estar sozinho.

Prepararam uma carruagem para o conde, e no começo da tarde, seguiram para a chamada Ilha dos Judeus. Mais outras seis pessoas seriam queimadas naquela tarde, e por isso, haviam montado arquibancadas altas para a nobreza, sendo que a plebe acumulara-se em torno das piras, eufórica, ansiosa por ouvir os gritos agonizantes e por sentir o odor das carnes queimadas dos hereges. Para eles, decerto, não havia diversão melhor que poder ver um organizado espetáculo carregado de dor e agonia, justificado pela salvação da alma dos condenados.

O rei Filipe, o Belo, havia mandado reservar um lugar para Aldous na arquibancada central, numa privilegiada posição, situada bem de frente para as piras. Quando o conde chegou, o monarca já se fazia presente, com o príncipe Luís, o conde Roberto d'Artois, o legista Guillaume de Nogaret, Enguerrand e Marigny e mais outros dignitários e nobres vindos de diversas partes da França. Afinal, não era comum assistir a queima de pessoas pertencentes a alta nobresa francesa.

Aldous subiu os degraus da arquibancada lentamente, sentindo o estômago revirar-se. O soturno Nogaret foi cumprimentá-lo, com os olhos ferozes brilhando de satisfação.

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